Alianças e discos
- Lucas

- 6 de jun. de 2024
- 4 min de leitura
Eu me casei nesse mês de maio. Às vezes olho para a aliança no meu dedo e me sinto mais adulto do que antes. Embora o protocolo social burguês defina que o próximo passo a ser tomado seja pensar em reproduzir, isso não está em nossos planos, ao menos não em um futuro próximo. No entanto, o casamento sim irá render muita reprodução, podem ficar tranquilos!
Estou falando, é claro, de reproduzir VINIS!
Sim, essa mídia antiga e já dada como morta e ultrapassada, mas que voltou com tudo já há uns bons anos se tornou uma pequena obsessão para mim nas últimas semanas.
O que isso tem a ver com casamento, não é mesmo? Bom, mesmo muito antes de conhecer a minha esposa Lara, eu já havia definido que o Daniel, meu amigo há 15 anos, seria o mestre de cerimônias do meu casamento (caso algum dia eu viesse a fazê-lo). Lembro de falar isso a ele numa madrugada, bêbado, na área externa da falecida casa de shows Diablo (quem conheceu não esquece). Ele nem deve se lembrar.
O fato é que no final do ano passado Lara e eu resolvemos nos casar, somente no civil mesmo, nada demais. Casamentos no cartório são celebrados pelo juiz/juíza de paz, portanto, Daniel não poderia fazer a cerimônia (além do fato de que não somos muito de cerimônias). Massss, é lógico que ele seria o padrinho, e foi!
E é aqui que entra a ligação entre vinis e casamento: com uma amizade de 15 anos e conhecendo a Lara já há 9 também, sabendo de nossa paixão por música, eis que uma semana antes do casório Daniel nos aparece com essa belezinha abaixo.

Contida a surpresa e a emoção, montamos a braba e colocamos o primeiro disco. Foi paixão à primeira agulhada. Simplesmente FANTÁSTICA! Além de linda, a vitrolinha vem com duas caixas de som de excelente qualidade e pode conectar rádio, bluetooth, tem saída auxiliar e entrada USB. Porém, é lógico, o charme se dá por conta do tocador de vinil.
Já me contive em vários momentos da minha vida para não comprar uma dessas vitrolinhas (que na verdade são toca-discos, mas falar vitrola é mais legal). Nunca esperava ganhar uma de presente, mas veio em um momento incrível.
Dias antes do casamento, comecei a escrever um texto que falava sobre como a minha relação com a música vinha enfraquecendo nos últimos tempos. Como é possível supor ao ver a descrição deste blog, a música sempre cumpriu um papel super importante na minha vida desde muito cedo. Aprendi a tocar violão aos 13 anos de idade e, a partir daí, a música já teve a função de hobby, sonho profissional, diversão, fazer amizades e serviu como combustível para me reerguer em vários momentos difíceis.
No entanto, nos últimos meses eu estava um pouco de saco cheio de música. Pegar o violão para tentar aprender uma música nova e esbarrar em alguma limitação de habilidade era algo que me deixava frustrado e me afastava do instrumento. Tentar conhecer novos artistas e me deparar com o automatismo das plataformas de streaming também era um desencorajador que me fazia enjoar cada vez mais das mesmas músicas que eu ouvia cotidianamente.
Aí veio esse toca-discos e me relembrou uma outra maneira de apreciar música.
Se você tem pelo menos uns 25 anos de idade deve se lembrar como era ouvir música até o final da década de 2000. Basicamente, as opções populares eram escutar a rádio, ou enfiar uma fita cassete ou um CD num aparelho de som como este abaixo (se você nasceu depois, pesquise no google o que é cassete, mas cuidado com os resultados).
Lá pro ano de 2006 se popularizaram os chamados MP3 Players, um aparelhinho charmoso no qual você podia colocar não mais do que algumas dezenas de músicas baixadas no seu computador (e demorava pra cacete pra baixar, principalmente se sua internet fosse discada). O MP3 não acessava a internet e você tinha que se contentar por semanas com as músicas que ali estivessem.
Seja ouvindo música no cassete, no disco ou no MP3 Player, nessa época existia o conceito de ter uma música. Ter um CD de um artista era motivo para fazer amizade, trocar discos, parar para ouvi-lo com os amigos. Emprestar o seu MP3 Player para que o seu amigo renovasse a playlist também era um evento social de uma época.
Atualmente, com os streamings, pular de uma música para outra em uma playlist genérica, que toca desde música erudita a funk, é a experiência mais comum de ouvir música. Você não tem mais a música, é uma relação mais libertina e fugaz. Com as mídias sociais tais quais o TikTok, gostar de uma música às vezes se resume a escutar sempre o mesmo trecho de 15 segundos com um vídeo ao fundo. Sem querer ser pedante demais (foi mal GG), é fato que boa parte da experiência de ouvir música foi-se embora com o declínio das mídias físicas.
O toca-discos me fez voltar a apreciar música de um jeito mais completo.
Começamos pelo fato de que é deveras charmoso o chiadinho da agulha no vinil. Outra coisa importante é a dificuldade de pular faixas, o que te faz escutar o disco por completo, mesmo que a sua música preferida esteja somente no final. Os álbuns de música (quase sempre) são uma composição, pensada pelos artistas para fazerem sentido daquela forma, naquela ordem. É mais fácil gostar de uma música, que talvez passaria despercebida no streaming, quando ela está num álbum cheio de outras músicas fodas. Seria extremamente difícil descobrir uma música incrível, que jamais figuraria em uma lista de mais tocadas do streaming, de outra forma.
Ouvir um disco de vinil é um exercício de desaceleração, de relaxamento, de atenção ao momento presente. É ficar atento à hora de virar o disco. É uma experiência sensorial completa, começando pela tátil ao manusear a capa; uma experiência visual de ler o encarte, acompanhar a letra da canção ou o que mais o artista escolheu colocar ali. Sem falar da qualidade do som...
Por isso tudo que foi dito, que o mundo seja mais discos de vinil e menos Spotifys (calma, eu não vivo sem ele também... é só pra terminar o texto com uma frase de efeito hehe).
Estou casado com a vitrola e com os meus discos!











👍👍