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Se puder, seja!

  • Foto do escritor: Lucas
    Lucas
  • 26 de mar.
  • 3 min de leitura

Há treze anos, em algum momento do qual não me recordo, escolhi cursar Psicologia, em vez de Engenharia Elétrica. Acho que eu nunca quis estudar engenharia, mas como fazia curso técnico na área, parecia ser o caminho natural a ser trilhado. Com dezoito anos de idade, eu percebia que não havia nada de natural no trilho de nossas escolhas em relação à vida. Mas talvez ali eu estivesse diante do início do fim das verdadeiras escolhas. Eu explico…


Escolher uma profissão é de fato um divisor de águas na vida. Você se lembra de quando e porque escolheu a sua? Quando escolhi a Psicologia, estava encantado com o livro “Mal-estar na civilização”, do glorioso Freud. Também estava impressionado com o conteúdo de um livrinho sobre o significado de certas expressões corporais. Uns dois anos depois, já no 4º ou 5º período do curso, eu entendia que o livro das expressões corporais, na verdade, não passava de um grande sensacionalismo meio barato, e achava a psicanálise do Freud uma coisa meio ultrapassada.


Então, o que me fazia continuar naquele curso? Se me fizessem essa pergunta nessa época, eu responderia com algo como “não posso simplesmente ter jogado 2 anos da minha vida fora” ou “não sei que outra coisa eu faria, é melhor continuar”. A verdade é que eu já experienciava o sentimento de estar perdido numa selva com os olhos vendados que é a vida adulta. Ali eu já não fazia mais uma escolha verdadeira, como foi escolher o curso. Continuar Psicologia era a consequência. A escolha era não lidar com a frustração de desistir, com a decepção que eu achava que a minha família poderia ter com essa decisão, com a responsabilidade de fazer uma nova escolha e “não poder errar”.


Ilustração de pernas diante de setas que apontam para sentidos opostos
Choices!

Acho que a esta altura do texto, ficou claro o que estou chamando de escolha verdadeira: uma escolha orientada principalmente pela vontade de escolher o que se escolhe. Continuar um curso por conveniência é uma escolha enviesada. Tendo isso claro, faço-lhe outra pergunta: qual foi a sua última grande escolha verdadeira? Pensar sobre isso pode doer, já te advirto!


Ler este texto pode te dar a impressão de que sou alguém frustrado e arrependido, mas já adianto que não é esse o caso. Tenho plena consciência de que o mundo para nós, pessoas que precisamos trabalhar, não é um morango (e se fosse seria azedo e meio mofado). Quanto menos dinheiro ou status social, menos escolhas teremos e isso é um fato. Escolher abandonar um curso de graduação na metade é uma escolha mais livre para alguém que pode ser bancado pelos pais até o final da vida, mas não é uma decisão tão fácil para quem precisa de um emprego para desafogar a situação financeira familiar. Eu sei de tudo isso e por essas e outras não olho para o meu passado com sentimentos negativos.


Nesse sentido, treze anos e muitas experiências mais tarde, já em uma situação diferente, tenho refletido sobre quais decisões verdadeiras ainda posso tomar na vida. Prestar um novo concurso? Começar um novo esporte? Fazer uma nova faculdade? Hoje essas opções existem na minha vida. Se também estiver na casa dos trinta, talvez você tenha menos energia do que aos dezoito. O tempo também é algo que parece esvaecer no meio das obrigações dos dias e das semanas. O dinheiro continua a ser um limitador. Não é tão simples falar de escolhas verdadeiras. Na verdade, parece uma grande bobagem quando paramos para refletir.


Contudo, se após tirar tudo o que nos impede de ter a utópica liberdade, ainda sobrar um cantinho de possibilidade de escolhas verdadeiras, devemos fazê-las com sabedoria. Se não são as 40 horas semanais de trabalho que me fazem ter vontade de acordar, que eu consiga pelo menos estar animado no domingo para ver o meu time jogar. Que eu tenha pelo menos uma noite feliz, em plena quarta-feira, ao lado das pessoas que me fazem bem.


Manter-se vivo através de algo que você faz porque escolheu fazer é um ato de resistência. Cumprir apenas as obrigações que o sistema nos impõe e ficar por isso mesmo, quando se tem saúde e possibilidade de algo mais, é deixar que ele vença. É através das nossas verdadeiras escolhas que podemos SER algo. Se puder, seja!

 
 
 

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