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Sofrimento!

  • Foto do escritor: Guilherme Galindo
    Guilherme Galindo
  • 14 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura


Oi, me chamo Guilherme, pros amigos "GG". Uma abreviação do meu nome e sobrenome - olha a gordofobia! Vigia!. Sou desenvolvedor, como sabem e escrever está longe de ser uma habilidade minha.




Então, eu não consigo sofrer. Irei tentar explicar em três exemplos. E antes que você pense que é de extrema arrogância ou até mesmo uma pitada de infantilidade, leia o texto, maldito! Peço um pouco de paciência pois capacidade de síntese não é o meu forte. Se fosse, eu não estaria aqui perdendo tempo sendo prolixo te pedindo isso.


Desde pequeno, chorar, sofrer ou lamentar sempre foi tratado como algo que além de extremamente vulnerável, totalmente inútil.

Perder tempo sofrendo nada mais é do que perder tempo.

E tempo, teoricamente, é o objeto mais valioso. E ser vulnerável é dar ao outro a capacidade de te machucar. Sendo assim, qual a melhor saída? Sentir raiva! A raiva impulsiona uma solução - nem sempre a melhor, mas alguma.

A raiva cresceu na minha vida como uma grande amiga e companheira. Talvez a mais antiga e fiel. E de todos os sentimentos enumeráveis, a raiva ao meu ver é a mais útil. Útil? Claro que sim! A raiva te protege. Já tentou chegar perto de um cão raivoso?


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E aqui, meu amor, se você está lendo este texto sentado na grama verde, com uma xícara de chá de hibisco na mão, após sua aula de yoga e durante seus 30 minutos de sol diário, talvez esteja um pouco assustado e até discordando. "Amor o melhor sentimento". Com todo amor no mundo, VAI TOMAR NO SEU CU. Mas também, meu muito obrigado por existir. Sentir raiva de você é o combustível do meu viver. Combustível que, se fosse um sentimento, com certeza seria raiva.


Voltando a parte em que eu não consigo sofrer - perdão pela prolixidade - eu me lembro do velório da minha vó. Quando eu recebi a notícia eu me opus a ir ao velório. Com muito amor, minha irmã me disse:

"O velório da vó não é sobre o que você quer. Levanta do sofá e veste roupa porque você tem que estar lá pela mãe".

O AMOR dela me convenceu, talvez a entonação e a leve espumada no canto da boca também. Então, lá estava eu, no velório da minha vó rodeado de familiares desfalecendo de tanto chorar e me perguntando "porque eu não tô assim?".

Chegar numa festa e se sentir deslocado é chato, mas no enterro da vó é angustiante. Eu não amava a minha vó? Não éramos próximos? Acho que sim pras duas.


Lá pras tantas, a namoradinha do meu primo - que até o momento já havia puxado uma dúzia de rezas diferentes - agachou na minha frente - eu estava sentado no banco ao lado do caixão - e falou: "Fica tranquilo, vovózinha está bem. Está sentada ao lado de Deus". Rapidamente, minha fiel escudeira respondeu: "Ela não é sua vó e eu não te perguntei nada." A querida saiu de perto e eu me senti aliviado.


No outro dia, eu levantei e segui minha rotina de estudante do 3º ano do ensino médio, destilando em microdoses aceitáveis um pouco da raiva que eu sentia - discussões com professores, brigas no intervalo, divergências na coordenação. O meu hiperfoco era entrar na faculdade. Os dias se passaram, os meses, os anos e eu nunca senti a dor da perda. A falta - quando vinha - rapidamente era substituída por alguma raiva momentânea - tropeção na quina da mesa ou não encontrar uma chave. Nunca sofri a morte da minha vó e agora mais de 10 anos depois me parece até falso fingir importar.


Agora, nesse momento você deve estar me achando um babaca ou então com pena de mim. Eu não me importo com você. Se importasse, te mandaria uma carta e não estaria escrevendo esse texto num blog de zero leitores. Te amo, Lucas.



A mensagem que eu gostaria de passar é essa: Eu não consigo sofrer. Pelo menos não da forma tradicional - choro, soverte e filme ruim. Eu consigo sentir raiva e a partir dela sairá muita coisa, algumas até boas. Eu vou arrumar soluções, criar problemas pra poder resolvê-los e culpar os outros. Ou até mesmo a vítima e a mim mesmo.


Quando descobri o câncer da minha mãe, senti raiva dela. Pensei: "Fica enchendo tanto o saco dos filhos pra cuidar da saúde que esqueceu dela mesma". Senti raiva de mim por não encher o saco dela em relação a saúde. De ser um filho relapso. Foram dez meses de tratamento, duas cirurgias, algumas internações, duas crises de choro e muita raiva. No dia em que eu recebi a notícia, estava a caminho da faculdade pra 1ª prova de Eletromagnetismo - já havia tomado pau nessa caralha três vezes. Como eu senti raiva dessa disciplina. O professor era um amor e eu só o suco do ódio. Decidi que iria ser aprovado nessa merda.


Na 2ª prova, minha mãe internou com uma infecção. O que era meu maior medo. Rememorando agora esses dias, sinto aquela raiva novamente comigo e uma vontade muito grande de socar a parede, gritar. Parecia uma piada muito escrota de alguém essas coincidências. Durante a prova veio a primeira crise de choro. Olhando de fora, parecia meio ridículo e constrangedor.

elemag é foda mas calma lá, amigão.

Saí da prova sabendo que seria aprovado sem precisar da última nota. Bebi muito. No fim, passei na disciplina com a maior nota da turma.


Por fim, mais recente, um amigo resolveu unilateralmente virar meu ex. Lá ele!


Sem falar comigo, sem explicar, sem discussão. Assim, simplesmente assim. Eu não tive a oportunidade de despejar nele o meu caminhão de raiva. Tive que carregar comigo e ir despejando aos poucos no mundo.

Uma atitude meio covarde a dele né? Concordo contigo.

Passado algumas semanas de raiva, comecei a arrumar as bagunças que eu mesmo havia criado e nessa empolgação coloquei dentro da caixa outros lixos que estavam acumulando esperando dar o dia. Sabe quando você vai deixando a sujeira da casa acumular para limpar no sábado, e aí você derruba 2L de refrigerante no meio da sala numa terça-feira e decide limpar tudo agora? É a raiva sua companheira nessa jornada. E é nessa jornada eterna em que me encontro.

 
 
 

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