Tragédia em vermelho e branco
- Lucas

- 26 de abr. de 2024
- 4 min de leitura

Essa semana teve início para o Vila Nova, meu time do coração, a sua 26ª série B. Quase cinco meses após a pior (ou não, a lista é longa) decepção que o clube já fez o seu triste torcedor passar. O Vila Nova já disputou a Série A por 9 vezes, ao contrário do que falam os negacionistas torcedores rivais, mas é fato que não sabe o que é a competição desde 1985, ano em que eu não era nem nascido. Este post é sobre tragédias.
Lembro que comecei a torcer para o Vila Nova ao acaso. Perto do meu aniversário de 5 anos, enquanto passava de carro com meu padrinho ao lado de um vendedor ambulante de camisas, fui perguntado por ele se eu achava mais bonita a camisa vermelha ou a verde. Óbvio que respondi "vermelha". Tempos depois, meu padrinho me daria o uniforme completo do time de presente de aniversário. Nascia a paixão (e o martírio).
Eu ainda era muito pequeno para entender o que acontecia no futebol em 1999, mas já no meu primeiro ano de torcedor, o Vila Nova decepcionava sua torcida não conseguindo o acesso após um quarto lugar amargo na Série B daquele ano. Ironicamente, se fosse hoje o quarto lugar o garantiria na próxima Série A, mas naquele ano só subiam 2. Certo? Mais ou menos. O Bahia, terceiro lugar, e o América-MG, quinto, disputaram a elite do Brasileirão de 2000, que foi chamado de Copa João Havelange. O Vila Nova, sempre prejudicado por si ou pelos outros, ficou chupando dedo na B (vá se lascar, CBF!).
Em 2008 eu já era um torcedor mais presente no estádio. Estava no auge da minha adolescência, e vi o impressionante Vila Nova de Max (finado goleiro), Alex Oliveira e do lendário Túlio Maravilha chegar muito perto do acesso. Porém, como sempre acontece nos enredos colorados, o Dick Vigarista do cerrado perdeu a vaga no G-4 faltando 3 rodadas para o final. Essa doeu muito mas viria coisa pior.
De lá pra cá vieram anos de oscilação, quedas para a Série C (com destaque para a de 2019, com o time mais feio que já vi em campo) e quase 2 décadas sem o título goiano da primeira divisão. Em 2017 e em 2018, dois sétimos lugares na B, mas que não me empolgaram (o técnico era carinhosamente chamado de Empate Maria).
E aí chegou o ano de 2023... Eliminação precoce no goiano e o time totalmente desacreditado para começar a Série B.
Corta para catorze rodadas depois e éramos o líder do campeonato, jogando muito. Eu não estava iludido, afinal, é o Vila Nova; as coisas dão errado pro Vila Nova. Mas entre esse pensamento e outro mais pessimista, dava uma olhadinha nos preços da passagem para Natal, local do jogo da última rodada contra o ABC, pois vai que...
Pois o início do segundo turno chega e o time começa a oscilar, como esperado. Mais algumas rodadas e a oscilação se transforma em continuidade, mas do fracasso. Chegamos à 33ª rodada precisando de um milagre nos 5 jogos restantes para subir: 4 vitórias e 1 empate.
O primeiro jogo, seria contra um adversário local ("rival" eu acho palavra demasiada forte), o Atlético-GO, embaladíssimo. Início do segundo tempo e... gol deles. A cerveja Tiger que já é naturalmente aguada ficou mais rala ainda. Dez minutos para acabar o jogo, surge o empate. O estádio vai à loucura, ninguém arreda o pé. No quarto minuto de acréscimo, a virada, a apoteose e o chororô do outro lado (Absolute cinema!!). Mas ainda faltavam 4 rodadas e 10 pontos. Impossível, né?
Na primeira, empate contra o líder. Restavam três jogos, dois em casa e um fora contra o lanterna já rebaixado. VAI DAR! No jogo seguinte, 4x1 no Londrina, jogando mais que a seleção de 70. A essa altura, metade de Goiânia já não conseguia mais trabalhar direito, os bares lotavam todos os dias, as pessoas andavam sorridentes na rua e o mundo parecia um panfleto de Testemunhas de Jeová.
Penúlitmo jogo e... 3x1 sobre o Ceará. ERA REAL, estávamos no G-4 novamente e acesso só dependia de nós!
"SÓ DEPENDIA DE NÓS". Ah, como essas palavras escondem medo e sofrimento! Ah, se o Vila dependesse dos outros, como seria melhor. Depender de si mesmo, esse foi o erro fatal.
No dia do jogo contra o ABC, milhares de torcedores que não viajaram para Natal foram até o OBA para assistir a partida. Nesse dia, tive problemas intestinais fortíssimos de ansiedade (antes eu tivesse inventando isso aqui, mas aconteceu). Lembro muito pouco do caminho de volta para casa e das horas que se seguiram. Havíamos perdido por 3x2 e adiado o sonho mais uma vez, na ocasião em que chegamos mais perto. Foi a única vez que chorei de tristeza por conta de futebol depois de adulto.
A Série A da era de pontos corridos parece uma miragem para o torcedor colorado, que tanto sofre.
Que este ano nos traga surpresas!










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