top of page
Buscar

Trintou

  • Foto do escritor: Lucas
    Lucas
  • 21 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de mai. de 2024



padrão de água
Foto aleatória da noite: arquitetura hostil no centro de Goiânia

Manter-se vivo parece uma tarefa que ganha uma carga extra de dificuldade depois dos trinta. Após derrotar o terceiro chefão, a vida parece adicionar alguns novos desafios no caminho de quem deseja derrotar o quarto. E você, já sem muitos itens e com 15% de life que restaram da batalha recém-travada, descobre que tem que aprender novas habilidades, senão o jogo pode complicar ainda mais (tô falando de game over, meu amigo!).


Eu, em específico, negligenciei alguns probleminhas que foram surgindo aqui e ali durante os vinte, e com a chegada dos trinta parece que a vida resolveu cobrar com juros. O pior deles (e não é segredo para quem me conhece) é o refluxo crônico que vem sendo, como o nome diz, meu companheiro cotidiano (you got a friend in me!). Ir num buffet à vontade pode parecer inofensivo aos olhos de quem lê, mas implacável ao estômago de quem escreve. Cada camarão que eu comi umas 7 horas atrás resolveu nadar no mar ácido do meu estômago e cobrar o buffet um pouco mais caro, a ponto de me acordar às 4h da manhã e me fazer escrever este texto, enquanto fico sentado na cama para não morrer de queimação (sim, eu tomei um antiácido depois que cheguei; sim, já tratei inúmeras vezes, mas é C-R-Ô-N-I-C-O, lê de novo!).


Outro inimigo que tem seu arco de crescimento bastante evoluído aos trinta chama-se RESSACA – assim imponente, em caixa alta. Meu amigo, a cerveja encareceu muito (se você tomava litrão por cinco reais em 2013, você sabe do que eu tô falando), mas o preço é irrisório perto de uma ressaca aos trinta (se isso piora ainda mais aos quarenta, eu paro de beber amanhã). Uma cervejinha na quarta-feira, pra quebrar a semana, pode guardar uma quinta-feira TENEBROSA dentro da garrafa. Ter ressaca aos trinta significa adoecer. Seu corpo te lembra de cada gole com dores por todo o corpo e um cansaço satânico, que não vai passar até a sexta e olhe lá. Se for beber depois dos trinta, ̶n̶ã̶o̶ ̶d̶i̶r̶i̶j̶a̶ tire o dia seguinte de férias da vida.


Vai subir uma escada? - dor no joelho.
Dormiu de mau jeito? - dor no pescoço.
Comeu demais? - azia.
Saiu de casa? - 2 dias de cansaço físico e mental (no mínimo).
Respirou? - dor nas costas.

Exercícios físicos: esse capítulo do game é mais difícil do que parece, mas é o que pode amenizar um pouco o dano dos inimigos citados. Você olha de fora e pensa:

“Ah, é só ir uns três dias na academia e passar lá uma das vinte e quatro horas do dia fazendo uma forcinha? Tranquilo demais.”

Kkkkkkk, e cada k é realmente uma lágrima. Deixa eu ver por onde começo a explicar… Trabalho! Começamos com o fato de que durante a maior parte do seu dia (se você for um adulto fodido igual quase todo mundo é) você vai passar trancafiado numa sala executando tarefas que ninguém gostaria de fazer (se fosse bom, não te pagariam para fazer... e vai tomar no cu se você é coach). O fato é que vai te sobrar pouco tempo e você vai querer fazer coisas mais interessantes do que uma série de 4 repetições até a falha no supino declinado (que atiça o refluxo).


Supondo que você goste de fazer exercícios, o que eu duvido muito se você está lendo este texto (senão estaria no Crossfit, né?), ainda assim, vai ter muitos dias nos quais a vida tratará de te deixar detonado e a academia ou sua corridinha no parque simplesmente não será uma opção ante a mais uma horinha de sono. No entanto, mesmo que você não goste de exercícios físicos, mas como eu tem 30+, sugiro que os faça. Ruim com eles, pior sem eles! Se puder, faça durante o home office, pois tudo o que compete com o trabalho naturalmente ganha +20 do atributo Prazer instantaneamente, ainda mais se você estiver sendo remunerado por isso. Se não tiver essa opção, tal como eu não tenho, ̶s̶e̶ ̶m̶a̶t̶e̶ dá seus pulos, mas vai, pois é a única forma de ganhar a habilidade Condicionamento Físico pra te ajudar a continuar no game.


Uma boa alimentação (o “boa” aqui é irônico pra cacete, mas não te falam isso no consultório) também é uma aliada na batalha (dizem). Aqui não tem muito o que dizer. Basicamente, tudo o que é gostoso pra caralho é melhor não comer demais ou não comer. Sim, além de trabalhar, acordar mais cedo pra mexer a sua carcaça que tá dando problema e pagar o preço extra pela diversão, você também não pode comer o que quer na quantidade que você quer. Contudo, uma “boa” alimentação também pode dar pontos importantes em alguns atributos.


Falando de mim novamente, sinto que vivi uma fase de negação dos problemas que eu citei. A pandemia e as mudanças que marcaram a fase dos vinte seis a trinta anos da minha vida fizeram com que o tempo parecesse acelerado demais, mas tudo isso aqui que escrevi já estava lá, mesmo que em menor grau. Muito rapidamente, saí de um adolescente crescido, sem muitos dos problemas citados, para um adultinho com responsabilidades de adultinhos e problemas de adultinhos (mas nossa, como ele é adulto!).


Fato é que não dá pra negligenciar mais certos aspectos. Acho que ainda tô me recuperando de algumas porradas recentes que recebi, e pensar sobre como viver a vida é um bom exercício a se fazer nestes e em outros momentos. Outro fato é que, pela primeira vez, me deparei genuinamente com a ideia do ̶g̶a̶m̶e̶ ̶o̶v̶e̶r̶ da finitude, e tenho percebido que quero muito chegar no quarto chefão bem. Falando nisso, melhor eu voltar a dormir, porque o refluxo aliviou e minhas costas estão doendo. Inté!

 
 
 

2 comentários


Lara Lima
Lara Lima
10 de mai. de 2024

a crônica moderna da instituição envelhecer

Curtir

Guilherme Henrique Alves Camargo
Guilherme Henrique Alves Camargo
08 de mai. de 2024

👍👍

Editado
Curtir
bottom of page